Em palestra no Clube Militar, no Rio de Janeiro, desembargador federal Reis Friede analisa disputa de americanos e chineses pela hegemonia no mundo

Mais de 100 pessoas, entre desembargadores, procuradores, militares, cientistas políticos, advogados e estudantes lotaram na quinta-feira, 20/03, o auditório do Clube Militar (CM) , no centro do Rio de Janeiro, para assistir a palestra do desembargador federal Reis Friede, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), sobre a disputa entre Estados Unidos e China pela hegemonia global e seus modelos econômicos, políticos e militares.

Depois de apresentado pelo general de brigada Sérgio Tavares Carneiro, presidente do CM, Reis Friede, diretor da Escola da Magistratura Regional Federal da 2ª Região (EMARF), com larga experiência como professor em várias universidades, analisou os sistemas de educação e de tecnologia americanos e chineses, fazendo um paralelo com a nossa realidade. “O sistema americano é conciso, concentrado, com médio nível de organização central. Na China, também é conciso e concentrado, mas com elevado nível de organização central. Já nós, brasileiros, contamos com um sistema difuso, desconcentrado, com baixo nível de organização. Sou brasileiro com muito orgulho, mas não enxergar nossas mazelas não seria inteligente. Porque você só pode ser forte se enxergar as  fraquezas e corrigi-las. A gente botar um tampão e fingir dizer que está tudo ótimo, não vai funcionar porque nunca funcionou”, alertou o magistrado.

Na palestra de 1 hora e 40 minutos, Reis Friede, um dos maiores especialistas em Ciência da Guerra no país, detalhou o poderio dos dois países, comparando os gastos das maiores potências em Defesa em poucos mais de 30 anos. Em 1992, os americanos gastavam 305 bilhões de dólares e os chineses, 28 bilhões de dólares. No ano passado, os gastos dos Estados Unidos no setor foram de 968 bilhões e da China, 305 bilhões de dólares. “Pela evolução dos investimentos, podemos observar que em 1992 os americanos investiam quase 11 vezes mais em Defesa do que os chineses. Hoje essa diferença caiu. Em 2024, os Estados Unidos gastaram três vezes mais que a China. Isso me faz lembrar uma frase do general Yang Baibing, Ele dizia em 1992 que, quando a China ativasse a economia e construísse um exército poderoso e um sistema de defesa firme, estariam prontos para ocupar posição adequada a um grande país integrante da comunidade internacional. Assim, dizia ele, ninguém os trataria com pouco caso nem se atreveria a afrontá-los. Parece que essa realidade chegou”, afirmou Reis Friede. “O problema é que os Estados Unidos, como observaram analistas, foram incapazes, por arrogância e miopia, de elaborar uma estratégia parta lidar com a ascensão da China”, alertou o magistrado.

Ao destacar as diferenças dos avanços tecnológicos entre os dois países, Reis Friede lembrou uma tese de Michael E. Marti, do Departamento de Defesa americano e especialista em política externa e segurança nacional da China. “Ele observou que a guerra do Golfo revelou ao mundo as novas tecnologias de conflitos modernos e a China prestou atenção nisso”. Num dos slides, o desembargador do TRF2 mostrou o crescimento do poderio bélico da China, Em 2023, o Exército Popular de Libertação já contava com 353 belonaves -  navios para realizar operações de guerra - superando a Marinha americana, que tem 314. O crescimento fica mais evidente na comparação de submarinos porta-mísseis. Em 1980, os Estados Unidos contavam com 36 desses navios contra apenas um submarino chinês. Em 2023, a frota americana diminuiu: 14 submarinos contra 7 navios chineses desse tipo.